quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Horas Rubras 

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...

Oiço olaias em flor às gargalhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas...

Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...

Sou chama e neve e branca e mist'riosa...
E sou, talvez,
na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta,
o beijo que procuras!
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Doce aroma

O dia está no fim, 
vinha apenas com a firme intenção de um banho quente e dormir. 
Foi a surpresa da tua presença que me acordou 
e entraste comigo na banheira. 
A nossa presença aqueceu os nossos corpos frios e cansados 
e a água quente iluminada pelas luzes de cheiro e calor 
invadiram os nossos sentidos.
Foi num instante que frenéticos nos deixamos ir. 
Explorei o teu corpo, saboreaste tudo em mim. 
Deixamos que o desejo tomasse conta de nós 
e comandasse aqueles momentos de loucura carnal. 
Sucumbimos ao cansaço mas deixamos no ar o doce aroma da paixão.

Pausa breve

Senti-te hoje quando os meus olhos se fecharam para te sonhar. 
Uma pausa breve dos minutos que correm por mim. 
Quase senti o teu cheiro e o teu suor em mim 
e o meu corpo moveu-se lentamente fremente do nosso prazer. 
Ausentei-me desta esfera e deste mundo que tanto me dói 
e deixei-me ir na loucura da recordação do teu beijo. 
Senti-te invadir o meu espaço e o meu corpo tremeu, gemi. 
Respirei ofegante na tua ausência tão presente 
e quis possuir-te ali de todas as formas que já nos possuímos 
imaginando ir mais além. 
O meu corpo já não me pertence. 
Saí de mim ao encontro do calor das tuas mãos 
e regresso ardente, num odor de paixão que ainda me invade.