Tu percorres um caminho longo. Segues em frente, mesmo que caias ou não te equilibres muito bem. Às vezes pensas, por breves momentos, que és importante, tens valor e mereces andar por cá. Sorris e passas alegre pela vida. Todos riem contigo e tens aquela sensação de felicidade que te entorpece e dá a falsa sensação que naquele momento está tudo bem.
Um dia acordas triste e sentes-te só. Pensas que tens de fazer algo para arrancar de dentro de ti essa chama que te corroi. Mascaras com sorrisos vãos, com conversas ocas e idas e vindas sem sentido para lugar nenhum. Pareces o vento que vai e vem e parece não sair do lugar. Sentes-te louca. Tentas soltar essas cordas que te prendem e dás contigo a apertar mais os nós. Contas as horas, os minutos para aquele momento em que vais entregar-te à vida e esquecer tudo o resto. Organizas a tua vida, o teu dia e esperas pelo momento em que o céu se vai unir à terra e vais gritar de felicidade. Corres. Fazes. Dizes. Imaginas e já louca de tanta vontade de explodir, tens de parar, implodir, sufocar, reprimir. Fingir.
Terminas o teu dia com a noção da verdadeira dimensão do teu ser. És grão de areia num imenso oceano. Aquele grão que todos pisam dizendo amar e admirar. Escondido no meio de outros grãos e que ninguém repara sequer que lá está, completamente coberto de oceano e que umas vezes fica a descoberto e outras completamente submerso. Sentes quão insignificante és. Ninguém desvia o seu caminho só para te olhar, embora muitos gostem de te ver ao passar. Ninguém conta as horas, os minutos para aquele momento em que se vai entregar a ti. E outra vez pareces o vento que vai e vem e parece não sair do lugar. Sentes-te louca. Tentas soltar essas cordas que te prendem e dás contigo a apertar mais os nós.
E baixas a cabeça. Recolhes ao teu leito com os teus olhos molhados. Das voltas e voltas até que adormeces cansada, sabendo que daqui a pouco amanhece o dia...