quarta-feira, 15 de julho de 2009

Se perderes tudo quanto amealhaste...


SE tu podes impor a calma,

quando aqueles

Que estão ao pé de ti a perdem, censurando

A tua teimosia nobre de a manter,

SE sabes aguardar sem ruga e sem cansaço,

Privar com Reis continuando simples,

E na calúnia não recorres à infâmia

Para com arma igual e em fúria responder,

- Mas não aparentar bondade em demasia

Nem presumir de sábio ou pretender

Manifestar excesso de ousadia,

-SE o sonho não fizer de ti um escravo

E a luz do pensamento não andar

Contigo num domínio exagerado,

SE encaras o triunfo ou a derrota

Serenamente, firme, e reforçado

Na coragem que é necessário ter

Para ver a verdade atraiçoada,

Caluniada, espezinhada, e ainda

Os nossos ideais por terra,

- mas ergue-los

De novo em mais profundos alicerces

E proclamar com alma essa Verdade!

SE perdes tudo quanto amealhaste

E voltas ao princípio sem um ai,

Um lamento, uma lágrima, e sorrindo

Te debruçares sobre o coração

Unindo outras reservas à Vontade

Que quer continuar, e prosseguindo

Chegar ao infinito da razão,

SE a multidão te ouvir entusiasmada

E a virtude ficar no seu lugar,

SE amigos e inimigos não conseguem

Ofender-te, e se quantos te procuram

Para contar com o teu esforço não contarem

Uns mais do que outros,

- olha-os por igual!,

SE podes preencher esse minuto

Com sessenta segundos de existência

No caminho da vida percorrido

Embora essa existência seja dura

À força das tormentas que a consomem,

Bendita a tua essência, a tua origem,

O mundo será teu,

E tu serás um Homem!


Rudyard Kipling

Em versos portugueses de António Botto