SE tu podes impor a calma,
quando aqueles
Que estão ao pé de ti a perdem, censurando
A tua teimosia nobre de a manter,
SE sabes aguardar sem ruga e sem cansaço,
Privar com Reis continuando simples,
E na calúnia não recorres à infâmia
Para com arma igual e em fúria responder,
- Mas não aparentar bondade em demasia
Nem presumir de sábio ou pretender
Manifestar excesso de ousadia,
-SE o sonho não fizer de ti um escravo
E a luz do pensamento não andar
Contigo num domínio exagerado,
SE encaras o triunfo ou a derrota
Serenamente, firme, e reforçado
Na coragem que é necessário ter
Para ver a verdade atraiçoada,
Caluniada, espezinhada, e ainda
Os nossos ideais por terra,
- mas ergue-los
De novo em mais profundos alicerces
E proclamar com alma essa Verdade!
SE perdes tudo quanto amealhaste
E voltas ao princípio sem um ai,
Um lamento, uma lágrima, e sorrindo
Te debruçares sobre o coração
Unindo outras reservas à Vontade
Que quer continuar, e prosseguindo
Chegar ao infinito da razão,
SE a multidão te ouvir entusiasmada
E a virtude ficar no seu lugar,
SE amigos e inimigos não conseguem
Ofender-te, e se quantos te procuram
Para contar com o teu esforço não contarem
Uns mais do que outros,
- olha-os por igual!,
SE podes preencher esse minuto
Com sessenta segundos de existência
No caminho da vida percorrido
Embora essa existência seja dura
À força das tormentas que a consomem,
Bendita a tua essência, a tua origem,
O mundo será teu,
E tu serás um Homem!
Rudyard Kipling
Em versos portugueses de António Botto
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