quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A perfeição...

Se eu não morresse, nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! (José Joaquim Cesário Verde). Cesário Verde é um dos autores que me foi apresentado em situação académica, andaria pelo meu 10º ou 11º ano. Gostei logo dele. Desde o meu 7º ano que vivia a febre da leitura, lia tudo o que me aparecia, foi na escola que contatei com autores específicos e cedo percebi a intensidade das escritas, a beleza de passar para o papel a vida que passa dentro de nós. Isso é uma forma de perfeição. Dei por mim muitas vezes a considerar que as palavras dos outros poderiam muito bem ter sido escritas por mim, não por me achar capaz de as escrever mas por conseguir senti-las dentro de mim e muitas têm sido as vezes que as utilizo nas redes sociais para expressar sentimentos. E a perfeição foi hoje tema de conversa. É politicamente correto dizer que a perfeição não existe e se eu disser que existe? estarei a dizer algo muito disparatado? infundado? Sou mulher apreciadora de Arte (dança, música, poesia, literatura, pintura, escultura...), apreciadora do belo. Quando olho para fotos da capela Cistina e para as gravuras de Miguel Ângelo dou por mim a dizer: perfeito!. Quando oiço tocar piano, por exemplo o pianista chinês Lang Lang, eu digo: Perfeito! quando oiço o Pavarotti cantar, perfeito...Miró...perfeito. José Afonso, perfeito, Nelson (4 real) Lucas, perfeito, Joaquin Cortez, perfeito, Dulce Pontes, perfeito, Fernando Pessoa, perfeito, monumento A Sagrada Família, perfeito, a casa de Gaudi, perfeito...tantas e tantas coisas que eu oiço, vejo, experimento e digo: Perfeito! E um corpo perfeito? e um cabelo perfeito? e um carro perfeito? e uma voz perfeita? e um olhar perfeito? e um sorriso perfeito? são perfeitos só para mim? será por isso que não existe perfeição? porque a perfeição é subjetiva? Mas eu vejo o mundo pelos meus sentidos, e a palavra perfeição existe, logo posso utilizá-la quando estou a senti-la. Então a perfeição existe, não me digam que não existe, porque eu já a presenciei.
Sei que também é politicamente correto dizer que podemos sempre melhorar, fazer mais e  fazer melhor, em tempos acreditei nisso, acredito ainda, talvez. Creio que criamos padrões de comportamento aos quais nos colamos. Podemos desviar-nos por este ou aquele motivo, tendo em atenção este ou aquele conselho, mas agimos sempre de acordo com os nossos padrões e com o nosso sentir.
Mas a perfeição existe. Vamos falar de pessoas. As pessoas são um todo em que a imagem é o cartão de visita, digam o que disserem. É o embrulho que vai criar no outro o interesse em se aproximar ou não. Neste momento penso se será bom dizerem-nos que nós e a maneira de ser de outro fariam a pessoa perfeita. Nós(imagem) + a maneira de ser de outro(conteúdo). Isso faria de nós o quê? Um laço colorido? um adorno? a cereja no topo do bolo? Nunca tive pretensões à perfeição, apenas tento pôr tudo de mim no mínimo que faço, ser transparente, inteira, expor-me, ser verdadeira. Quem chega até mim sabe, desde o 1º minuto, quem sou. Eu sou como me apresento, um pouco sábia, um pouco naif, um pouco tímida, um pouco fogosa, um pouco melancólica, um pouco feliz...intensa sempre. Sempre Eu. Gosto de A ou de B, de C ou de T, todos cabem em mim, porque todos são gente que precisa de outra gente.  Gosto disto ou daquilo, de tudo sei explicar o porquê assim exista quem queira saber a resposta. Não posso ser mais ou menos por gostar do que gosto e por sentir o que sinto e como sinto. Sempre valorizei conteúdos e foi nisso que investi toda a vida, ser "um bom conteúdo". Sou só a cereja no topo do bolo? pois que seja, mas que fique registado que serei a cereja mais intensa, mais doce e que dentro de mim existe um coração que bate e sente, sim, serei uma cereja com coração, com gostos, com interesses que desenvolvi vivendo, observando, partilhando. Uma cereja com ego, que gosta de abraços, de poesia, de viver, uma cereja que vai brilhar e vibrar sempre que a apreciem, não que isso a eleve ou a desvie do seu caminho, mas porque o seu ego gosta de pensar que afinal há quem olhe para ela, mesmo que não seja com olhos de ver. Esta é a minha perfeição, ser EU, sempre.
Sim, seria perfeito Se eu não morresse, nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! talvez assim não fosse preciso outro para me ver inteira.
 

Nenhum comentário: