quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Respeito - uma palavra em extinção


Filipa não consegue trabalhar. A sua vida escorrega-lhe pelos dedos e o seu ninho de felicidade escapa-lhe agora entre os dedos. São tantas as histórias que conheço como a da Filipa. Há dias partilhou comigo a sua aflição e com ela tenho vivido momentos de angustia. Teve um primeiro casamento falhado, um amor sonhado e vivido a dois e depois o companheiro começou a sair sem ela. No início ela não se importou, era só uma saída para ir beber café, ou uma saída por outro qualquer motivo também muito bem justificado, depois passou a ser estar de serviço sem estar. Depois tornou-se um hábito e um vício sair sem ela. Depois foi foram os vícios do Tunning e ele sem emprego fixo a gastar o que tinha e não tinha no Tunning, e outras coisas que eu não soube mas facilmente adivinharei. Não houve filhos. Depois, cereja no topo do bolo, depois de a deixar dias, noites a chorar e de a ver deprimida e triste, resolveu envolver-se com outra pessoa e terminou a relação. O sonho da Filipa ruiu. Quando a esperança lhe fugia conheceu outra pessoa, em tudo diferente e o sonho voltou a fazer parte da sua vida, novo casamento. Viveu um conto de fadas e planearam um filho. Viveram a gravidez plenos de felicidade. O bebé tem agora poucos meses e Filipa vê o seu sonho a escorregar-lhe por entre os dedos. De repente o seu companheiro começou a interessar-se por outras coisas e a querer fazer outras coisas. Voltou a repetir-se o cenário anterior. Ele agora saiu para parte incerta, disse-lhe que ia estar fora por um motivo de trabalho e ela já descobriu que é mentira. Tem agora o filho de poucos meses em casa a precisar dela e ela está desfeita. São tantas as histórias que eu conheço como a da Filipa. Onde está o respeito pela outra pessoa, a maturidade de se sentar com a pessoa que partilha a nossa vida e falar a verdade. Respeitar um compromisso. Terminar um compromisso antes de iniciar outro. Todos nós podemos deixar de gostar de uma pessoa, é legítimo, mas porque não enfrentar e ser honesto? respeitar o fato de existir um bebé de meses. Porque tem de ser a mulher a ficar e a sofrer com um filho pequeno, quando o projeto foi dos 2? estará ele a divertir-se com outra pessoa, a passar dias leves enquanto a Filipa fica a cuidar do filho de ambos, carregando a incerteza nos ombros? Filipa não consegue trabalhar...nem dormir...nem comer...e o seu companheiro disse que ia trabalhar fora e no trabalho meteu férias...

3 comentários:

Lúcia Gonçalves disse...

Gostei.
Escrita urbana, que retrata o nosso quotidiano. Leitura fluente.
Parabéns.

Lúcia Gonçalves disse...

Escrita urbana que retrata o nosso quotidiano numa combinação feliz entre as palavas comuns e as mais profundas. Parabéns. Segue o teu sonho.

Unknown disse...

o texto é comovente, de fato, embora foque um martírio baseado numa igualdade que geneticamente é desigual...
parabéns!