sábado, 15 de maio de 2010

O Céu

Fecho os olhos e recordo o céu negro, estrelado, imensamente estrelado, que observava naquela casa onde vivi.
Porta para o céu, local onde tantas vezes pensei em t...udo, sózinha, com as estrelas por companhia, fiz tantos planos, construi tantos castelos de sonhos e simplesmente adormecia sentindo a brisa do mar que lá longe repousava também.
Saudades do mar. Tantas. Imensas saudades. Tantas. O som, o cheiro...de tanto me afastar mal consigo recordar o efeito absolutamente libertador que o mar exerce sobre mim. Acordar e ver o mar, imagem sublime. Um dia sei que vou terminar os meus dias numa casa de frente para o mar...Adormecer a ouvir a dança do mar, naquele vai e vem que entorpece. Viver com o odor do mar por companhia, experiência inesquecível.
Durante muito tempo imaginei o mar no horizonte, nos locais por onde andei depois. Agora vejo apenas uma linha de terra, fria, sem cheiro, som ou emoção.
Fecho os olhos uma vez mais e recordo o céu estrelado, imensamente estrelado daquele local...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Verdes Anos

Verdes anos em que tudo era novo, em que a brisa do mar soprava e os meus longos cabelos compridos sussurravam segredos. O sol queimava mesmo a minha pele e ouvia-se um delirio de prazer simplesmente por existir e viver o novo em cada dia.
Tempos onde o sonho comandava a minha vida em que acordar ao som de uma música especial, fazia-me especial. Ter alguém a ouvir-me ou à minha espera fazia-me sentir no mais alto dos cumes com a mais maravilhosa vista.
O meu pensamento voava livre, tinha toda uma vida à minha espera, todo um universo para conquistar, toda uma missão para cumprir.
Verdes anos em que um olhar era uma promessa. Um odor um sentimento. Uma voz um prazer. A lua era testemunha de conversas onde as palavras fluiam como frutos vermelhos doces intermináveis...
A vida seguia alucinante, dia após dia, noite após noite e o futuro era um presente construido pelo passado. Ser feliz era o plano.
Verdes anos...em que mergulhar no mar era o prazer supremo e ver um sorriso especial uma dádiva da vida.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Respirar - Pablo de Neruda



Morre lentamente,quem não viaja,

quem não lê, quem não ouve música,

quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente,

quem destrói o seu amor-próprio,

quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente ,

quem se transforma em escravo do hábito,

repetindo todos os dias os mesmos trajetos,

quem não muda de marca,

não se arrisca a vestir uma nova cor,

ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente,

quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente,

quem evita uma paixão,

quem prefere o negro sobre o branco

e os pontos sobre os "is"

em detrimento de um redemoinho de emoções,

justamente as que resgatam o brilho dos olhos,

sorrisos dos bocejos,

corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente,

quem não vira a mesa

quando está infeliz com o seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto

para ir atrás de um sonho,

quem não se permite

pelo menos uma vez na vida

fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente,

quem passa os dias

queixando-se da sua má sorte

ou da chuva incessante.

Morre lentamente,

quem abandona um projeto

antes de iniciá-lo,

não pergunta sobre um assunto que desconhece,

ou não responde

quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo

exige um esforço muito maior

que o simples facto de respirar.



Pablo Neruda