quinta-feira, 13 de maio de 2010

Respirar - Pablo de Neruda



Morre lentamente,quem não viaja,

quem não lê, quem não ouve música,

quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente,

quem destrói o seu amor-próprio,

quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente ,

quem se transforma em escravo do hábito,

repetindo todos os dias os mesmos trajetos,

quem não muda de marca,

não se arrisca a vestir uma nova cor,

ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente,

quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente,

quem evita uma paixão,

quem prefere o negro sobre o branco

e os pontos sobre os "is"

em detrimento de um redemoinho de emoções,

justamente as que resgatam o brilho dos olhos,

sorrisos dos bocejos,

corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente,

quem não vira a mesa

quando está infeliz com o seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto

para ir atrás de um sonho,

quem não se permite

pelo menos uma vez na vida

fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente,

quem passa os dias

queixando-se da sua má sorte

ou da chuva incessante.

Morre lentamente,

quem abandona um projeto

antes de iniciá-lo,

não pergunta sobre um assunto que desconhece,

ou não responde

quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo

exige um esforço muito maior

que o simples facto de respirar.



Pablo Neruda

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