sábado, 12 de maio de 2012

Quando confiar já não é possivel

Como conseguimos viver sem acreditar? Refiro-me ao acreditar no outro, não num sonho ou numa concretização, mas acreditar que o outro estará frente a nós de forma transparente e honesta. Vivo os meus dias a fugir das pessoas e ao mesmo tempo a querer estar no meio delas. Vivo os meus dias a querer apenas ouvi-las e ao mesmo tempo a querer gritar e pedir socorro, abrigo, abraço, conforto. Quando dou por mim a dar um passo no sentido de me entregar e viver intensamente uma nova amizade ou um novo amor caio no mais profundo abismo da incerteza de não ter percebido qual a sua  verdadeira intenção na aproximação. 
Adormeço sozinha. Deambulo pelo sonho e vagueio por ai toda a noite, percorro o universo e aqueço-me de sensações únicas e inesquecíveis mas acordo fria e só, de rosto molhado e cansado.
O meu corpo é meu, pertence-me. Não quero que o uses, não quero usa-lo para dar prazer a alguém, quero usa-lo para nós, para voarmos os dois e adormecer num encaixe perfeito sentindo-me feliz. Quero que me aqueças e ampares, ver a tua face ao adormecer e beijar o teu rosto ao acordar. Não quero ver rostos sem face a passar no meu leito, nem vozes sem som a sussurrar ao meu ouvido. Não quero sentir o perfume estranho na minha almofada. Como posso viver sem acreditar, quando confiar já não é possível? Cada passo que dou me afasta mais do caminho que quero percorrer. Tento adaptar-me mas em vão. Eu não sou assim, não quero ser assim..
Eu sou mais que um corpo, sou mais que aquilo que vês por fora. Eu sei um Mundo, conheço um Mundo e consigo partilhar um Mundo, mesmo sendo apenas uma pequena areia do deserto, ou uma pequenina gotinha de água num imenso oceano e estou viva. Ainda tenho espaço para mais Mundo dentro de mim, tenho muita alma para encher e outro tanto Mundo para conhecer. Nada disto quero fazer sozinha, mas também não consigo dar a alguém a hipótese e o fazer ao meu lado. E agora, como poderei confiar quando confiar já não é possível?

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