Os sonhos são pedaços de corpo e de alma que se perdem de nós. Pedaços livres, autónomos, inconscientes e com vida própria, que se libertam do nosso Ser e vão onde nós não podemos ir. Deixamo-los ir sob pena de nos vermos aprisionados naquilo que fizemos de nós e que já não conseguimos recuperar. Pelo sonho recolhemos a água que nos mata a sede de desejo e bebemos cada gota com a maior intensidade que conseguimos impor num ato de loucura e impulsividade extrema. O sonho não está sujeito a censura, nem a regulação de volume, quantidade, intensidade, o sonho tudo pode.
Tem vida própria e, às vezes, é ele a própria vida. O sonho é nosso, e toda a emoção é nossa, ato egoísta, êxtase, horizonte sem fim, banho quente, arrepio frio, um cubo de gelo a deslizar, orgasmo múltiplo, vício, espécie de febre, suor, coração a explodir, prazer supremo...que se prolonga até acordarmos. Mas ao contrário de tudo o que acaba, o sonho pode sempre ser repetido infinitamente, para sempre, todas as vezes que adormecermos, antes do sono final.
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