sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

(...) vou saber que valeu delirar e morrer de paixão (...) - de um Poema de Fernando Pessoa

"Eu tenho uma espécie de dever,
dever de sonhar,
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que
uma espectadora de mim mesma,
eu tenho que ter
o melhor espetáculo que posso.
E assim me construo a ouro e sedas
,em salas supostas, invento palco,
cenário,para viver o meu sonho
entre luzes brandas
e músicas invisíveis.

Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite provável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã se este chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão"

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