sábado, 11 de dezembro de 2010

Tempos de Crise e Navidad

A CRISE...

Lá fora as luzes anunciam que o Natal se aproxima. Numa de muitas conversas que tenho com amigos, falámos de crise. Parece que este ano o Natal vai ser muito mau, as pessoas não têm dinheiro para nada. Há fome, há miséria e as necessidades estão a bater à porta de todos, o desemprego cresce de dia para dia, avizinha-se, portanto um Natal muito triste. O Presidente da República diz que os portugueses deveriam ter vergonha de existir tanta pobreza em Portugal e por isso sugere que cada um de nós (dos mais afortunados) ajude os mais desfavorecidos. E como o exemplo deve vir de cima, concerteza já passou esta mensagem aos nossos governantes, pelo que não teremos de nos preocupar, a ajuda vem a caminho. Nos jornais nacionais algumas autarquias anunciaram cortes na iluminação natalícia, como forma de contornar a crise. Feliz natal para todos. Vitória, vitória, acabou-se a história.
NAVIDAD...
Es Navidad...as lojas estão cheias, os centros comerciais estão cheios, os restaurantes estão cheios, não há lugar para estacionar perto de lojas, dentros dos centros Comerciais, há filas intermináveis nos Hipermercados e para fazer embrulhos. As cidades que percorro estão todas iluminadas, avenidas inteiras, ruas do comércio, janelas de prédios...anunciam-se mega festas de Reveillon. Há filas nos bancos, nas farmácias, o comércio tradicional está animado, as esplanadas enchem à hora do lanche. Falavas de quê? crise? ahhh pois, as campanhas do Banco Alimentar batem recordes na recolha de alimentos para os mais desfavorecidos. Feliz natal para todos. Com pozinhos de perlim pim pim a história chegou ao fim.
Ao longe alguém diz: Ja faz tempo que pedi, mas o papai Noel não veio..., decerto alguém que veio passar férias a Portugal, português não deve ser...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

E se não me perder, continuarei a vir

De vez em quando sinto saudades e venho fazer uma visita. Percorro alguns caminhos que outrora percorri na ansia de encontrar algo que me faça lembrar que já passei por aqui. Oiço uma música e recordo quando a ouvi pela primeira vez. Faço assim visitas curtas, breves, cheias de intensidade, apenas para me lembrar que existi e quais os caminhos que percorri. Leio um poema, um livro, revejo um filme à espera de encontrar a mesma emoção do 1º dia. Depois, volto à vida de hoje; às voltas; às pressas, aos risos e aos choros, à correria, aos multi compromissos, às multiplas tarefas, e, quando tenho saudades de mim procuro este local para me encontrar de novo. Aqui fico a saber que adoro a vida e que um dia quis vivê-la com intensidade. Até me atribuo alguma importância e recordo que aspirava a ser especial para alguém. Faço o ponto da situação dos sonhos que tive. Depois, volto à vida de hoje, aos sonhos por realizar e à falta de tempo para sonhar. Volto à paleta de cores frias que amanhece e anoitece os meus dias e, quando preciso de uma pausa, as saudades apertam de novo e tenho saudades de tudo o que era, venho aqui fazer uma visita. E se não me perder, continuarei a vir.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Artigo de Clara Ferreira Alves no Expresso (vale a pena perder 2 minutos)


Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?Vale e Azevedo pagou por todos?Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Clara Ferreira Alves - "Expresso"

Não queiras saber de mim... - Rui Veloso

Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim
Não queiras saber de mim

Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo
Mas tu pões esse vestido

E voas até ao topo
E fumas do meu cigarro
E bebes do meu copo
Mas nem isso faz sentido
Só agrava o meu estado
Quanto mais brilha a tua luz
Mais eu fico apagado
Dança tu que eu fico assim

Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo
Amanhã eu sei já passa

Mas agora estou assim
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim

sábado, 11 de setembro de 2010

Me gustas cuando callas - Pablo Neruda

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos,
y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto

domingo, 1 de agosto de 2010

Até logo...Equipa de Intervenção Precoce de Montemor-o-Novo


Perante esta vossa mensagem para mim, pouco mais haverá a dizer. Desenhar sem borracha, poucos o conseguem fazer, viver sem poder apagar os momentos menos bons é uma aventura. Nestes momentos haveria muito a dizer, mas o pouco que dizemos pode significar muito mais. OBRIGADA, a todos os que acharam importante, fazer um desvio da sua vida para me dedicarem alguma atenção e alguns mimos. Um bem haja para todos. A todos os que, no Alentejo, me trataram bem, me respeitaram pessoal e profissionalmente e que tornaram o meu caminho muito mais fácil de caminhar, um beijo grande e votos de eterna felicidade.
"...os vencidos não são os que perdem mas os que não se arriscam sequer a perder..." (obrigada Filomena). "Deve ser o destino a dizer para não ires!"... (obrigada Ana Nascimento). "Uma amiga para a vida!"...(obrigada Ana Catrapona). Obrigada Susana Gonçalves.
Até logo...

sábado, 3 de julho de 2010

ENCONTRO DE DANÇAS - ALL TOGETHER IN HAPPINESS

Dia 2 de Julho de 2010 foi uma noite fantástica. Começamos por vos relatar o alinhamento de uma noite memorável dedicada à dança.

Com 1 hora de atraso, (que não de deveu à pontualidade dos grupos e individualidades convidadas), tempo em que aguardamos a chegada do público ao Pavilhão da EB 2, 3 de Montemor-o-Novo, deu-se início ao desfile de grupos e individualidades que nos presentearam com a sua arte. As boas vindas foram dadas pela Musiclass Senior Band que se destacou pela qualidade dos músicos que se apresentaram ao vivo e cedo entusiasmaram os presentes. A Academia inaugurou dia 1 de Julho de 2010 as suas novas instalações, proporcionando-nos um espaço de bom gosto onde todos terão a oportunidade de ter aulas de música, instrumento, canto e dança.
A belissima apresentadora do evento, Ana Catrapona, jovem educadora de infância de Vendas Novas, guiou os presentes numa viagem de paixão pela dança, apresentando o artistas em palco. Ressalvamos que todas as biografias lidas foram da responsabilidade dos grupos em cartaz, que enviaram à organização do evento os seus textos.
A acompanhar a 2ª prestação da Musiclass Senior Band esteve o Ivan (Nyga) Dancer, com um solo. Nyga tem 26 anos, começou a dançar em 2003 no RH2, grupo de dança de Pegões. Foi aí que começou a crescer a sua paixão pela dança. De 2004 a 2006 fez parte do grupo de Dança “Os Descendentes” de Vendas Novas. A partir dessa data tem vindo a apostar na sua formação de bailarino, passou pela Academia de dança Revolution-Lisboa e foi aluno do Nelson (4 Real) Lucas, Formou-se como instrutor de Hip Hop e Ragga pelo College Diego Sacco, em 2006; Bailarino Profissional de Hip Hop New school, Poping, Locking e breakdance pelo CFB – Curso de Formação de bailarinos da R-evolution e Angels of Dance, no âmbito do qual foi bailarino do musical “Momentum” em cena no Tivoli em 2008. Foi aluno do Miguel Chinês e da Diana Matos, Do Bruno Sky Fly, Da Silvia Platz, do Kikko, do Nelson (4 Real) Lucas, entre outros. Encontra-se a terminar o Curso de Formação de bailarinos II, tendo tido formação em dança contemporânea, ballet clássico, lyricall jazz, breakdance, danças de salão, hip hop new school, locking, popping e teatro físico, nesse âmbito tem sido aluno do Nelson (4Real) Lucas, Kikko, Silvia Platz, Anabela Afonso, B-Boy Vermelho, Ana Alberto, Marco ABS, Pedro Diogo , entre outros. O Ivan tem abraçado inúmeros projectos, de várias áreas, promovendo a dança como área transversal. É instrutor de Hip Hop em várias localidades do Concelho de Montemor, tem coreografado musicais nas localidades em que exerce a sua actividade, tem alunos a partir dos 2 anos e é o instrutor principal do Projecto Hip Hop Dance Class, no âmbito do qual tem organizado workshops, convívios promovendo a dança como uma ocupação saudável de tempos livres onde se respeita a individualidade de cada artista.

sábado, 15 de maio de 2010

O Céu

Fecho os olhos e recordo o céu negro, estrelado, imensamente estrelado, que observava naquela casa onde vivi.
Porta para o céu, local onde tantas vezes pensei em t...udo, sózinha, com as estrelas por companhia, fiz tantos planos, construi tantos castelos de sonhos e simplesmente adormecia sentindo a brisa do mar que lá longe repousava também.
Saudades do mar. Tantas. Imensas saudades. Tantas. O som, o cheiro...de tanto me afastar mal consigo recordar o efeito absolutamente libertador que o mar exerce sobre mim. Acordar e ver o mar, imagem sublime. Um dia sei que vou terminar os meus dias numa casa de frente para o mar...Adormecer a ouvir a dança do mar, naquele vai e vem que entorpece. Viver com o odor do mar por companhia, experiência inesquecível.
Durante muito tempo imaginei o mar no horizonte, nos locais por onde andei depois. Agora vejo apenas uma linha de terra, fria, sem cheiro, som ou emoção.
Fecho os olhos uma vez mais e recordo o céu estrelado, imensamente estrelado daquele local...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Verdes Anos

Verdes anos em que tudo era novo, em que a brisa do mar soprava e os meus longos cabelos compridos sussurravam segredos. O sol queimava mesmo a minha pele e ouvia-se um delirio de prazer simplesmente por existir e viver o novo em cada dia.
Tempos onde o sonho comandava a minha vida em que acordar ao som de uma música especial, fazia-me especial. Ter alguém a ouvir-me ou à minha espera fazia-me sentir no mais alto dos cumes com a mais maravilhosa vista.
O meu pensamento voava livre, tinha toda uma vida à minha espera, todo um universo para conquistar, toda uma missão para cumprir.
Verdes anos em que um olhar era uma promessa. Um odor um sentimento. Uma voz um prazer. A lua era testemunha de conversas onde as palavras fluiam como frutos vermelhos doces intermináveis...
A vida seguia alucinante, dia após dia, noite após noite e o futuro era um presente construido pelo passado. Ser feliz era o plano.
Verdes anos...em que mergulhar no mar era o prazer supremo e ver um sorriso especial uma dádiva da vida.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Respirar - Pablo de Neruda



Morre lentamente,quem não viaja,

quem não lê, quem não ouve música,

quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente,

quem destrói o seu amor-próprio,

quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente ,

quem se transforma em escravo do hábito,

repetindo todos os dias os mesmos trajetos,

quem não muda de marca,

não se arrisca a vestir uma nova cor,

ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente,

quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente,

quem evita uma paixão,

quem prefere o negro sobre o branco

e os pontos sobre os "is"

em detrimento de um redemoinho de emoções,

justamente as que resgatam o brilho dos olhos,

sorrisos dos bocejos,

corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente,

quem não vira a mesa

quando está infeliz com o seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto

para ir atrás de um sonho,

quem não se permite

pelo menos uma vez na vida

fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente,

quem passa os dias

queixando-se da sua má sorte

ou da chuva incessante.

Morre lentamente,

quem abandona um projeto

antes de iniciá-lo,

não pergunta sobre um assunto que desconhece,

ou não responde

quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo

exige um esforço muito maior

que o simples facto de respirar.



Pablo Neruda