Transcrevo estas palavras que bem poderiam ser minhas de tanto que já refleti sobre elas...
" Manda um mosquete valente no orgulho. Manda um breque bem forte nas conversas de chacha que te dizem que deves ser difícil, que deves jogar o jogo do avança e recua com quem amas. Manda uma cabeçada à Mike Tyson nas lérias que te ensinam a não seres fácil perante quem amas. Se amas: sê fácil. Abre os braços, abre as pernas, abre a boca: abre-te para quem amas. Se amas: não compliques. Se queres um beijo, beija; se queres um abraço, abraça; se queres um orgasmo, despe e salta e dança e sua e geme. Se queres amar: ama. Não olhes a convenções. Prefere as pulsões. Prefere os corações, as animações – até mesmo os neutrões. Liga-te à electricidade, liga-te à corrente: sê a tua corrente. Esquece as correntes de pensamento que te fecham as portas, esquece as correntes de preconceitos que te ofuscam o desejo, esquece as correntes de medos que te castram o sentir. Se amas: sê fácil. E ser fácil é bem fácil: se queres dizer “não” dizes “não”; se queres dizer “sim” dizes “sim”. Simplifica: não obrigues quem amas a perceber o que está por detrás do que dizes, não obrigues quem amas a adivinhar que queres dizer exactamente o contrário do que acabaste de dizer. Diz o que pensas exactamente assim: como o pensas. Não te faças de difícil: fazer de conta vai, por vezes, além da conta. E depois podes até acabar tu por não entrar nas contas. Ainda não te contei? Conto-te agora então. Lê com atenção.
Jogar com quem amas só é interessante sobre os lençóis e entre as quatro paredes de um quarto. Jogar com quem amas só é interessante quando se trocam fluidos e lambidelas mais ou menos demoradas. Jogar com quem amas só para fazer de conta que és muito forte e que é quem amas que tem de te perseguir e seduzir e essas balelas todas não tem interesse nenhum. E torna-te, se insistires nessa alarvidade intelectual e emocional, em desinteressante. Em entediante. Numa valente pessegada de seca. Porque nada é mais secante do que quem sabe o que quer e aparenta – por uma questão de orgulho ou de racionalização doentia – não querer exactamente aquilo que quer. Mais uma vez: simplifica. Mais uma vez: descomplica. Sê e diz e faz o que queres ser e dizer e fazer. Se te apetece abrir os braços a quem te magoou: abre; se te apetece abrir as pernas a quem te fez sofrer: abre; se te apetece enfiar a língua na boca de quem devias odiar: enfia. Despreza as desprezíveis leis do amor-próprio. O amor-próprio é uma treta. Só te amas se te sentires bem contigo. E só te sentes bem contigo se estiveres bem com tudo aquilo que és. E se amas quem amas só te sentes bem com tudo aquilo que és se te sentires bem com aquilo que amas. E quando se ama quase tudo (ou tudo) aquilo que és é aquilo que amas. Por isso: ama-te amando (ou deixando-te amar por) quem amas. Por isso: não tenhas receio de fazer de Deus. Por isso: não tenhas receio de perdoar. Plenamente perdoar: sem saber porquê, sem entender de onde vem perdoar vem. Perdoar. Abrir. Não tenhas receio de esquecer o que tem de ser esquecido, de sepultar o que já foi. Enterra o passado. Sim: enterra o passado. Antes de que te enterres, definitivamente, a ti. Antes de que te enterres, definitivamente, em ti.
Sê uma rameira, uma prostituta, uma vadia, uma meretriz. Sê fácil para quem amas. Perdoa quem amas. Dá uma trancada no orgulho e dá uma trancada – ou várias – em quem amas. Não evites viver. Não evites, também, sofrer e fazer sofrer de novo, magoar e ser magoada de novo, chorar e ser chorada de novo. Não evites arriscar, não evites temer estar a ir longe demais. Não evites: não te evites. Porque é viver, e mais nada, que é inevitável.
in "EU SOU DEUS"
(encomenda exclusiva de exemplares autografados pelo e-mail pedrochagasfreitas)
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Nothing compares to U
As lembranças são pedaços de nós que arrumamos sem ordem específica, talvez por cores ou cheiros, sons ou músicas. Eu arrumei as lembranças de ti por sorrisos, os meus e os teus, aqueles que te vi esboçar e aqueles que sorri na tua presença e na tua ausência. E é assim que, ao procurar-me, te encontro a ti. Foste porto seguro onde me sentia inteira e livre de julgamentos. Recordo que enxugava as lágrimas nos teus sorrisos e apontamentos de humor e na tua capacidade de desviar a minha atenção das mágoas e humilhações das quais me vitimizava vezes sem conta. Nunca te cansaste de mim, não me recordo que em algum momento tenha sentido fastio ou indiferença da tua parte. Eras a pessoa que me ouvia nos momentos em que eu pensava não ter voz.
Lembro-me dos dias em que contava os minutos para que o sol se pusesse, dos dias em que para ti era invisível e em tudo o que eu fazia para me veres. (Sorriso) Corava só de pensar que te ia ver. E naquele dia que disseste que ias ter comigo e depois disseste que já não ias, não tenho a certeza já, acho que chorei de frustração. Pasme-se, eu lembro-me da primeira vez em que te vi, ou talvez a primeira vez que reparei em ti. E lembro-me de tantas outras vezes em que me senti livre, feliz, especial, simplesmente porque saia contigo. Lembro-me de sentir o meu coração bater...ah as borboletas no estômago! Mas quando estava ao pé de ti controlava-me tanto para não corar, para não deixar transparecer. Eras o meu amigo especial, aquela pessoa que me ouvia me entendia e estava do meu lado. A pessoa que me fazia ver o outro lado das situações que me retirava do buraco negro onde eu própria teimava em lançar-me.
Lembro-me das músicas e das danças, não que dançasses comigo habitualmente, muito pelo contrário, (sorriso) mas uma vez até isso fizeste por mim e acompanhaste-me numa dança...tempo suficiente para sentir o teu cheiro de perto e desejar que nesse dia me desses uma atenção diferente e que olhasses para mim de outra forma. Em vão.
As lembranças que tenho de ti não têm ordem cronológica, vão e vêem, surgem dispersas, tão longe, tão distantes, avivadas com a tua ajuda ou com o meu esforço de recordar o que há tanto tempo deixei lá atrás.
Ahhh recordo quando vi no meu Blog um comentário a um post, referindo-se a mim como "especialista em vinhos". Parei no tempo. Comecei por não perceber, depois disse para mim mesma: "não pode ser!" e depois foi novamente o bater do coração até confirmar que eras tu o anónimo que deixara o comentário. Já te tinha procurado antes, mas foste tu que me reencontraste primeiro. Mas quando estivemos juntos eu portei-me bem e acho que não corei e mantive o coração dentro do peito (sorriso).
Depois disso tens estado presente de novo na minha vida. Partilho contigo as angustias e as alegrias. peço-te conselhos confio no teu discernimento Tu continuas igual, não te abres, tenho de recorrer à minha habilidade de ler nas entrelinhas se quero entrar dentro de ti. Admiro a tua honestidade e o teu caráter. O teu amor pelos teus filhos. Sinto-me feliz e orgulhosa por ter um amigo com o teu percurso profissional e roou-me de inveja das tuas viagens (sorrisos) e rio-me quando falas com tédio das mesmas. Continuas a ser o meu amigo especial. Tenho medo que te canses de mim e quando te ausentas por longos períodos de tempo é nisso que penso. É que tenho planos para nós, ja te esqueceste? velhinhos, de bengalinha a lembrar aqueles dias. (sorriso). Até era capaz de te autorizar uma bengalada ou outra por me ter portado mal no passado (e isto nada tem a ver com o facto de eu estar a ler as "50 sombras de Grey" (sorriso).
Também me lembro dos nossos desencontros...e de Portalegre...e de tudo o resto e que hoje não vou falar.
Lembro-me que do ano em que estavas em Luanda no teu aniversário (lá está a questão da ordem cronológica) bom, lembro-me de termos falado de eu ir ter contigo, de teres escolhido a roupa que eu ia vestir de mandares o chofer (sorriso) para me apanhar ao aeroporto e, sobretudo lembro-me de ter pensado que era capaz de ir e de sorrir ao pensar nessa possibilidade. Lembro-me de sorrir.
Feliz aniversário meu amigo, que a vida te sorria sempre. Não te percas de mim, quero ser tua amiga até sempre.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Hoje realmente não me recomendo. E quando assim estou nem quero conversar. Cumpri o estipulado para hoje, mas sem ânimo, sem força, sem entusiasmo. Consegui caminhar por ai por respeito a uma amizade e numa tentativa de sair deste torpor, deste arrastar de sentidos sem sentido. Em vão. Dou por mim a navegar e a recordar imagens, pedaços da vida que passa por mim. Olho as almas, os sorrisos, oiço as vozes, os olhares, os movimentos, os silêncios e os gritos sonoros, mudos...observo a vida a acontecer fora de mim tentando buscar pedaços do que de mim ficou para trás. Dou por mim a desejar qualquer coisa que não sei identificar claramente. Dou por mim a desejar ser desejada, mas toda, inteira e poder corresponder. Dou por mim a querer estar naquele lugar, a desempenhar o papel daquela mulher acarinhada, mimada, tocada e que sorri de felicidade. Arrepio. Demoro o meu olhar nos casais que passam, nas mãos que se entrelaçam e nos beijos, ai nos beijos...por isso hoje não me recomendo. Tudo parece tão longe e tão inatingível para mim.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Escuridão
Não consigo
sentir mais nada para além deste sono profundo que me puxa para o infinito do
meu ser. Tamanha é a tentação de lá permanecer, acordada apenas por estas lágrimas que teimam em rolar pela minha face. Com a palma da mão enxugo-as, cerro
os dentes, não quero sentir-me assim. A noite pesa tanto que quase não suporto
ampará-la em mim, sobreviver-lhe. Os meus passos percorrem o mesmo caminho até
lá fora, uma e outra vez, provocando em mim ansiedade, raiva, irritação. Quero que a
escuridão entre dentro de mim e apague tudo o que ainda se ilumina, não vale a
pena a luz, não vale a pena o sol, não vale a pena sequer esperar. Sou imagem
irreal, não me retenho em ninguém e ninguém sobe os muros que me rodeiam
para me salvar. Também já não quero ser salva, mas também já não quero sentir
mais nada, nem dor, nem prazer, nem qualquer outra emoção. Quero arrancar esta
solidão de dentro de mim, cada vez se entranha mais e eu sinto-me já a perder as
forças.
domingo, 30 de setembro de 2012
Sonhos pedaços de corpo
Os sonhos são pedaços de corpo e de alma que se perdem de nós. Pedaços livres, autónomos, inconscientes e com vida própria, que se libertam do nosso Ser e vão onde nós não podemos ir. Deixamo-los ir sob pena de nos vermos aprisionados naquilo que fizemos de nós e que já não conseguimos recuperar. Pelo sonho recolhemos a água que nos mata a sede de desejo e bebemos cada gota com a maior intensidade que conseguimos impor num ato de loucura e impulsividade extrema. O sonho não está sujeito a censura, nem a regulação de volume, quantidade, intensidade, o sonho tudo pode.
Tem vida própria e, às vezes, é ele a própria vida. O sonho é nosso, e toda a emoção é nossa, ato egoísta, êxtase, horizonte sem fim, banho quente, arrepio frio, um cubo de gelo a deslizar, orgasmo múltiplo, vício, espécie de febre, suor, coração a explodir, prazer supremo...que se prolonga até acordarmos. Mas ao contrário de tudo o que acaba, o sonho pode sempre ser repetido infinitamente, para sempre, todas as vezes que adormecermos, antes do sono final.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Uma espécie de dor...
Hoje "passei" por vários assuntos com as pessoas que partilharam o meu caminho, ao longo do dia. Não sei se por coincidência ou se por mero acaso, o tema solidão foi recorrente. Talvez porque me sinto sozinha há tempo demais. Quem me conhece sabe que vivo rodeada de gente, de filhos, de colegas de trabalho, colegas da Universidade, amigos da rádio, amigos do ginásio, amigos da escola, amigos de amigos, de Facebook, de Hi5, da Oriflame, dos Depeche Mode, amigos que estão perto, amigos que estão longe, de recordações, de imagens, não seria, portanto, espectável que me sentisse só. Mas esta é a realidade. E hoje a solidão começou a apertar ainda o sol não se tinha posto, ainda me distraia no terraço do Hotel, acompanhada, e já me sentia absolutamente só. São 23.30 e está difícil. Já fiz de tudo, já li, já ouvi música, já fiz jantar, já arrumei a cozinha, já pus os miúdos a dormir, já lhes dei mimos, já fiz café, já o fui beber para a minha varanda, e a mesma sensação de vazio permanece.
E aqui estou, só. A falar comigo, a desabafar comigo, a sentir falta de algo que jurei não querer sentir mais, do calor de ter alguém aqui ao meu lado onde me possa aninhar e adormecer. Onde me possa aninhar e me queira ouvir. Onde me possa aninhar e partilhar o dia, o sonho, a vida, o mundo. Alguém que me toque a pele, a alma e me faça sentir viva, alguém que sinta a minha falta e queira estar aqui comigo também. Dizem que a solidão dói e, hoje, só hoje...sinto uma espécie de dor tão grande...que mal consigo respirar. Depende apenas de mim, mas nem sequer consigo buscar companhia só por buscar...
terça-feira, 3 de julho de 2012
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Insignificante...
Tu percorres um caminho longo. Segues em frente, mesmo que caias ou não te equilibres muito bem. Às vezes pensas, por breves momentos, que és importante, tens valor e mereces andar por cá. Sorris e passas alegre pela vida. Todos riem contigo e tens aquela sensação de felicidade que te entorpece e dá a falsa sensação que naquele momento está tudo bem.
Um dia acordas triste e sentes-te só. Pensas que tens de fazer algo para arrancar de dentro de ti essa chama que te corroi. Mascaras com sorrisos vãos, com conversas ocas e idas e vindas sem sentido para lugar nenhum. Pareces o vento que vai e vem e parece não sair do lugar. Sentes-te louca. Tentas soltar essas cordas que te prendem e dás contigo a apertar mais os nós. Contas as horas, os minutos para aquele momento em que vais entregar-te à vida e esquecer tudo o resto. Organizas a tua vida, o teu dia e esperas pelo momento em que o céu se vai unir à terra e vais gritar de felicidade. Corres. Fazes. Dizes. Imaginas e já louca de tanta vontade de explodir, tens de parar, implodir, sufocar, reprimir. Fingir.
Terminas o teu dia com a noção da verdadeira dimensão do teu ser. És grão de areia num imenso oceano. Aquele grão que todos pisam dizendo amar e admirar. Escondido no meio de outros grãos e que ninguém repara sequer que lá está, completamente coberto de oceano e que umas vezes fica a descoberto e outras completamente submerso. Sentes quão insignificante és. Ninguém desvia o seu caminho só para te olhar, embora muitos gostem de te ver ao passar. Ninguém conta as horas, os minutos para aquele momento em que se vai entregar a ti. E outra vez pareces o vento que vai e vem e parece não sair do lugar. Sentes-te louca. Tentas soltar essas cordas que te prendem e dás contigo a apertar mais os nós.
E baixas a cabeça. Recolhes ao teu leito com os teus olhos molhados. Das voltas e voltas até que adormeces cansada, sabendo que daqui a pouco amanhece o dia...
terça-feira, 22 de maio de 2012
Hoje contaram-me uma história irreal que não resisto em partilhar convosco: um pai sai de casa e deixa o filho com a mãe. Até aqui nada de anormal. Coisas do Livre Arbítrio. No dia da sessão de regulação do poder paternal, ficou decidido que a criança ficaria a viver com a mãe, fato a que o pai não se opôs. O irreal vem a seguir, na definição dos dias para estarem juntos e de seguida na definição do valor da pensão de alimentos. No primeiro ponto, os dias para estarem juntos, o pai não podia no dia x, nem na hora y porque estava a trabalhar e a estudar. Os advogados de defesa muito preocupados com o fato iam repetindo: "pois, não pode, veja lá então quando pode ser! Bom mas se no Sábado trabalha ate às 13h, é melhor ir buscá-lo as 14h30 para ter tempo de almoçar!"...No ponto seguinte, a definição do valor da pensão de alimentos, mais uma vez, a preocupação era com o pai, que não tinha rendimentos porque andava a trabalhar e a estudar para dar um futuro melhor ao filho. Os advogados diziam: "Ele coitado não pode dar mais do que 100€ e mesmo isso é muito arriscado e depois não pode dar mais nada, ele não tem, não pode!". A pessoa que me contou isto, informou os advogados que o pai estava a estudar mas estava a ser financiado a 100% para o fazer. Ao que os advogados prontamente e eficientemente disseram: "Isso não conta, as ajudas não contam, só podemos contar com o que ele ganha! e a situação económica dele é precária!" ao que essa pessoa respondeu: "Eu sei que a situação dele é precária, vivi 6 anos com ele e a situação dele foi sempre essa!"...finalmente, feitas as contas, o pai vai pagar menos de 3€ por dia para a mãe prover os alimentos, roupas, teto, conformo, assistência, lazer, higiene, lavagem de roupas, fraldas, etc, etc, etc, mais 50% das despesas de saúde e educação, daqui a 3 anos quando ele entrar na escola. Segundo me apercebo, é um excelente negócio, pelo que, se a mãe quiser que uma ama fique com ele, por motivos profissionais ou de lazer, pelos menos 15€/ hora terá de pagar. Se faltar um dia ao trabalho para o assistir na saúde, pelo menos 50€ serão descontados do seu vencimento/ dia. As noites mal dormidas para o assistir serão da mãe...As viagens para o Hospital...O que me indignou também nesta história, é que ninguém se preocupou com a mãe, se a mãe trabalha e tem tempo para dar assistência ao filho, se a mãe tem dinheiro para sustentar o filho sozinha, se a mãe tem direito a dispor do seu tempo como acontece com o pai. Se fosse a ela tinha sugerido que o pai, em vez de o ir buscar às 14h30 de sábado, fosse às 17h, almoçava, descasava um bocadinho e depois, com calma, ia buscar o filho. Eu, se fosse a ela até tinha oferecido abrigo ao pai, coitado, que trabalha 24h por dia e não tem tempo nem dinheiro para a ajudar a cuidar do filho. Os patrões pagam-lhe mal? fazem-no trabalhar e não lhe pagam? coitado. Ahh e ele teve direito a advogado (apoio judiciário) pago com os descontos da mãe, que há mais de 20 anos trabalha, para parasitas como aquele pai, que nunca fizeram nada na vida e o que fizeram foi sempre à conta das outras pessoas, pais, mulher, namoradas...andarem pela vida fora a pisar os outros. Indignadissima.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Nunca Me Tinha Apaixonado Verdadeiramente - José Luís Peixoto, in 'Uma Casa na Escuridão'
Escrevi até o princípio da manhã aparecer na janela. O sol a iluminar os olhos dos gatos espalhados na sala, sentados, deitados de olhos abertos. O sol a iluminar o sofá grande, o vermelho ruço debaixo de uma cobertura de pêlo dos gatos. O sol a chegar à escrivaninha e a ser dia nas folhas brancas. Escrevi duas páginas. Descrevi-lhe o rosto, os olhos, os lábios, a pele, os cabelos. Descrevi-lhe o corpo, os seios sob o vestido, o ventre sob o vestido, as pernas. Descrevi-lhe o silêncio. E, quando me parecia que as palavras eram poucas para tanta e tanta beleza, fechava os olhos e parava-me a olhá-la. Ao seu esplendor seguia-se a vontade de a descrever e, de cada vez que repetia este exercício, conseguia escrever duas palavras ou, no máximo, uma frase. Quando a manhã apareceu na janela, levantei-me e voltei para a cama. Adormeci a olhá-la. Adormeci com ela dentro de mim.
Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. A partir dos dezasseis anos, conheci muitas mulheres, senti algo por todas. Quando lhes lia no rosto um olhar diferente, demorado, deixava-me impressionar e, durante algumas semanas, achava que estava apaixonado e que as amava. Mas depois, o tempo. Sempre o tempo como uma brisa. Uma aragem suave, mas definitiva, a empurrar-me os sentimentos, a deixá-los lá ao fundo e a mostrar-me na distância que eram pequenos, muito pequenos e sem valor. E sempre só a solidão. Sempre. Eu sozinho, a viver. Sozinho, a ver coisas que não iriam repetir-se; sozinho, a ver a vida gastar-se na erosão da minha memória. Sozinho, com pena de mim próprio, ridículo, mas a sofrer mesmo. Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. Muitas vezes disse amo-te, mas arrependi-me sempre. Arrependi-me sempre das palavras.
sábado, 12 de maio de 2012
Quando confiar já não é possivel
Como conseguimos viver sem acreditar? Refiro-me ao acreditar no outro, não num sonho ou numa concretização, mas acreditar que o outro estará frente a nós de forma transparente e honesta. Vivo os meus dias a fugir das pessoas e ao mesmo tempo a querer estar no meio delas. Vivo os meus dias a querer apenas ouvi-las e ao mesmo tempo a querer gritar e pedir socorro, abrigo, abraço, conforto. Quando dou por mim a dar um passo no sentido de me entregar e viver intensamente uma nova amizade ou um novo amor caio no mais profundo abismo da incerteza de não ter percebido qual a sua verdadeira intenção na aproximação.
Adormeço sozinha. Deambulo pelo sonho e vagueio por ai toda a noite, percorro o universo e aqueço-me de sensações únicas e inesquecíveis mas acordo fria e só, de rosto molhado e cansado.
O meu corpo é meu, pertence-me. Não quero que o uses, não quero usa-lo para dar prazer a alguém, quero usa-lo para nós, para voarmos os dois e adormecer num encaixe perfeito sentindo-me feliz. Quero que me aqueças e ampares, ver a tua face ao adormecer e beijar o teu rosto ao acordar. Não quero ver rostos sem face a passar no meu leito, nem vozes sem som a sussurrar ao meu ouvido. Não quero sentir o perfume estranho na minha almofada. Como posso viver sem acreditar, quando confiar já não é possível? Cada passo que dou me afasta mais do caminho que quero percorrer. Tento adaptar-me mas em vão. Eu não sou assim, não quero ser assim..
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Os pequenos prazeres da vida
Os prazeres da vida estão nas pequeninas coisas. Nas minhas reuniões com pais das crianças que apoio, fico sempre sensibilizada com a capacidade que estes têm de gerir emoções, de contornar situações e de operacionalizar estratégias no meio do caos que certas vidas se tornam por causa das dificuldades desenvolvimentais e/ou comportamentais dos filhos. Hoje foi um desses dias. Deixo-os falar, oiço-os. Penso que hoje a grande dificuldade é deixarmo-nos estar e apenas ouvir o outro. Temos tanta necessidade de falar de nós que deixamos o outro em silêncio ou a falar sozinho. As crianças na escola não ouvem o professor, a escola não ouve a família, a família não ouve a escola, cada vez há menos espaço para ouvir. Nos recreios, nas salas de aula, vivenciamos um concurso de quem fala mais alto para se fazer ouvir. Estamos a criar gerações de egocêntricos, de pessoas cheias de certezas, que não colocam nada em causa e raramente têm dúvidas. Ora o mundo só avança no resultado de dúvidas, de hipóteses que se levantam e se comprovam ou rejeitam, na discussão de ideias e ideais. Hoje senti prazer numa pequena coisa: OUVIR. E claro, tive concerteza de dar a minha opinião técnica, porque também é isso que esperam de mim, que ajude a encontrar uma luz no fundo do túnel. Reforço esta ideia, que ajude simplesmente, porque o caminho cada um tem de percorrer o seu, não necessariamente sozinho.
sexta-feira, 30 de março de 2012
QUANDO A INJUSTIÇA BATE À NOSSA PORTA...
Hoje vou partilhar um texto escrito por um amigo com emoção, com um discurso vindo de dentro de todo o seu ser, que se transformou num grito digno de ser ouvido por todos quanto percam um momento para o ouvir:
"EU SOU POLÍCIA, ORGULHOSAMENTE!
No passado dia 11 de Fevereiro, decorreu um pouco por todo o país, uma marcha/concentração de cidadãos devidamente enquadrados por uma frente sindical, que a plenos pulmões gritavam contra o fantasma do endividamento, a famosa crise e suas maleitas.
A mim, foi-me confiada a missão de zelar por estas mesmas pessoas e ao mesmo tempo fazer por que tudo corresse dentro daquilo que tantas vezes se ouve falar, a Liberdade democrática.
E assim foi, como sempre, mas não para sempre, dentro do espírito sereno da malta Tuga, lá fomos indo desaguar na Praça do Povo, outrora conhecida por Praça do Comércio, cantando, berrando e mandando umas asneiradas, enquanto pelo canto do olho, alguns davam uma mirada Tuga, a uma ou outra menina, enquanto emborcavam uma imperial à pressa porque não podiam largar o cartaz muito tempo.
Dentro daquilo considerado normal.
Discursos, apupos, vaias e aplausos, termina a parte oficial.
Eis senão quando, foi-me dada a ordem de recolher o pessoal, visto que o evento estaria na sua fase de rescaldo. Assim, juntei a malta e devidamente enquadrados, deslocamo-nos para a nossa viatura para que pudéssemos trincar uma bucha.
Nesse mesmo deslocamento, há um garoto, que encoberto pela multidão, grita “…vão trabalhar seus chulos… parasitas… filhos da puta…fascistas…” .
–Cabrão! Pensei eu; -Devias-me dizer isso lá no café, na folga, ou no tempo dos cowboys lá no faroeste, paneleiro, covarde!
Ignorei e dei ordem para ignorar, fomos à bucha. A minha sandes devia estar estragada, caiu-me mal…
Eu sei que agora é tarde, mas mesmo assim a esse covarde e outros que para aí andam, tenho duas ou três coisas para vos dizer, cá vai;
“..Vão trabalhar…”???
Os chulos, ganham 780€ por mês, trabalham 45 horas por semana que se às quais somarmos os gratificados passam para 60, isso, 60 horas semanais.
Os parasitas, trabalham os feriados todos, sim, todos sem direito a compensação, as noite e os fins de semana sem direito a qualquer pagamento de hora nocturna, na chuva, no sol, no frio, no calor e por aí fora.
Os Filhos da Puta, depois de saírem de serviço, vão para tribunal com o bêbado que podia muito bem atropelar a tua família toda, quando saíste para ir jantar e celebrar uma merda qualquer que te tenha acontecido. Ficam no trabalho a acabar o expediente que vai de manhã para tribunal, com o bando que assaltou à mão armada, ou com o que roubou, matou, assaltou a farmácia, a ourivesaria, o carro, o puto que vinha da escola, a velha no autocarro, o camone no eléctrico e por aí fora, que por mim, podias ser tu, a tua mãe, o teu filho o teu irmão, que o trabalho seria feito de igual forma.
Os fascistas, chamam o reboque quando não consegues sair com o carro, quando um como tu, abusa da sua liberdade e deixa o carro mesmo na saída da garagem. Entendes este conceito de liberdade? Penso que sim.
Os chulos abrigam e protegem a mulher, as crianças que levam porrada de um esterco qualquer, só porque lhe apetece e leva-o a tribunal, na hora de folga.
Os parasitas, entram em casas em chamas, enfrentam armas de fogo, embrulham-se á facada, perseguem a grandes velocidades, lidam com todo o tipo de doenças, correm na direcção oposta, quando todos os outros fogem dali para fora.
Os chulos saíram do seu seio familiar e social e deslocaram-se, alguns para mais de 400km de casa, deixando tudo para trás, para fazer vida de forma honrada sem pedir nada a ninguém. Sem pedir nada a ninguém, sabes o que isso é?
Os parasitas, vivem num estatuto aprovado há mais de dois anos e regem-se pelo estatuto antigo, não conseguem passar um fim de semana inteiro com a família esperam 12 anos por uma promoção (única na carreira de 36 anos) e se quiserem algo mais, concorrem 1300 para 50 vagas.
Aqueles que insultaste, têm família, trabalham duro, são esforçados e honrados e são montes de merda como tu que colocam isso em causa? Não! Definitivamente não! Estes mesmos Homens e Mulheres apoiam os idosos que alguém como tu abandonou ao consumo do esquecimento, levam-lhe as compras, mudam-lhe a garrafa do gás e dão-lhe a medicação apenas em troca de um olhar grato, e isso sim, justifica tudo. Tu apareces quando tudo acaba, para vir buscar o ouro e ficar com as chaves de casa. E nós é que somos os chulos!
Aqueles que olhas com desprezo sabem um pouco de tudo, são Padres, Juízes, Médicos, Socorristas, Bombeiros, Rambos, Psicólogos, Professores, Mecânicos, e se somares isto tudo e mais qualquer coisa tens um Polícia.
Quando é que vais perceber que só falas em liberdade porque nós existimos?
Quando é que vais entender que tipos como tu são a razão da minha existência enquanto profissional.
Se nós não existíssemos, ias à praia? Ao futebol? Jantar fora? Deixavas o teu filho ir à escola? Quer-me parecer que não.
Será que não entendes que ao insultares-me, estás a insultar aquilo que és, um homem livre?
Tudo isto funciona com combustível que concerteza encontrarás em abundância num qualquer Homem ou Mulher de farda; Abnegação, Generosidade, Espírito de Sacrifício e Altruísmo. Googla estas palavras e saberás a definição, bom era que aprendesses o conceito.
Já hasteei a minha Bandeira à chuva, já a arreei ao som do clarim, já representei a minha Mui Nobre Nação, já chorei a cantar “A Portuguesa” caso não saibas, é o título do nosso hino, conheço muitos Homens e Mulheres que coseram a nossa Bandeira no braço, que fazem de ti uma cabeça de alfinete num mundo de cabeçudos. A minha farda é rica em sangue suor e lágrimas, minhas e de tipos como tu, que quando precisam, ao ver-me, encontram refúgio e protecção.
Olha, o meu Pai nunca me deu um carro, nem me pagou a universidade, mas deu-me coisas sem preço, entre elas o valor de um Não, Educação, Humildade e Espírito de Luta.
EU SOU POLÍCIA, ORGULHOSAMENTE!
E TU, O QUE É QUE TU JÁ FIZESTE PELO TEU PAÍS?"
No passado dia 11 de Fevereiro, decorreu um pouco por todo o país, uma marcha/concentração de cidadãos devidamente enquadrados por uma frente sindical, que a plenos pulmões gritavam contra o fantasma do endividamento, a famosa crise e suas maleitas.
A mim, foi-me confiada a missão de zelar por estas mesmas pessoas e ao mesmo tempo fazer por que tudo corresse dentro daquilo que tantas vezes se ouve falar, a Liberdade democrática.
E assim foi, como sempre, mas não para sempre, dentro do espírito sereno da malta Tuga, lá fomos indo desaguar na Praça do Povo, outrora conhecida por Praça do Comércio, cantando, berrando e mandando umas asneiradas, enquanto pelo canto do olho, alguns davam uma mirada Tuga, a uma ou outra menina, enquanto emborcavam uma imperial à pressa porque não podiam largar o cartaz muito tempo.
Dentro daquilo considerado normal.
Discursos, apupos, vaias e aplausos, termina a parte oficial.
Eis senão quando, foi-me dada a ordem de recolher o pessoal, visto que o evento estaria na sua fase de rescaldo. Assim, juntei a malta e devidamente enquadrados, deslocamo-nos para a nossa viatura para que pudéssemos trincar uma bucha.
Nesse mesmo deslocamento, há um garoto, que encoberto pela multidão, grita “…vão trabalhar seus chulos… parasitas… filhos da puta…fascistas…” .
–Cabrão! Pensei eu; -Devias-me dizer isso lá no café, na folga, ou no tempo dos cowboys lá no faroeste, paneleiro, covarde!
Ignorei e dei ordem para ignorar, fomos à bucha. A minha sandes devia estar estragada, caiu-me mal…
Eu sei que agora é tarde, mas mesmo assim a esse covarde e outros que para aí andam, tenho duas ou três coisas para vos dizer, cá vai;
“..Vão trabalhar…”???
Os chulos, ganham 780€ por mês, trabalham 45 horas por semana que se às quais somarmos os gratificados passam para 60, isso, 60 horas semanais.
Os parasitas, trabalham os feriados todos, sim, todos sem direito a compensação, as noite e os fins de semana sem direito a qualquer pagamento de hora nocturna, na chuva, no sol, no frio, no calor e por aí fora.
Os Filhos da Puta, depois de saírem de serviço, vão para tribunal com o bêbado que podia muito bem atropelar a tua família toda, quando saíste para ir jantar e celebrar uma merda qualquer que te tenha acontecido. Ficam no trabalho a acabar o expediente que vai de manhã para tribunal, com o bando que assaltou à mão armada, ou com o que roubou, matou, assaltou a farmácia, a ourivesaria, o carro, o puto que vinha da escola, a velha no autocarro, o camone no eléctrico e por aí fora, que por mim, podias ser tu, a tua mãe, o teu filho o teu irmão, que o trabalho seria feito de igual forma.
Os fascistas, chamam o reboque quando não consegues sair com o carro, quando um como tu, abusa da sua liberdade e deixa o carro mesmo na saída da garagem. Entendes este conceito de liberdade? Penso que sim.
Os chulos abrigam e protegem a mulher, as crianças que levam porrada de um esterco qualquer, só porque lhe apetece e leva-o a tribunal, na hora de folga.
Os parasitas, entram em casas em chamas, enfrentam armas de fogo, embrulham-se á facada, perseguem a grandes velocidades, lidam com todo o tipo de doenças, correm na direcção oposta, quando todos os outros fogem dali para fora.
Os chulos saíram do seu seio familiar e social e deslocaram-se, alguns para mais de 400km de casa, deixando tudo para trás, para fazer vida de forma honrada sem pedir nada a ninguém. Sem pedir nada a ninguém, sabes o que isso é?
Os parasitas, vivem num estatuto aprovado há mais de dois anos e regem-se pelo estatuto antigo, não conseguem passar um fim de semana inteiro com a família esperam 12 anos por uma promoção (única na carreira de 36 anos) e se quiserem algo mais, concorrem 1300 para 50 vagas.
Aqueles que insultaste, têm família, trabalham duro, são esforçados e honrados e são montes de merda como tu que colocam isso em causa? Não! Definitivamente não! Estes mesmos Homens e Mulheres apoiam os idosos que alguém como tu abandonou ao consumo do esquecimento, levam-lhe as compras, mudam-lhe a garrafa do gás e dão-lhe a medicação apenas em troca de um olhar grato, e isso sim, justifica tudo. Tu apareces quando tudo acaba, para vir buscar o ouro e ficar com as chaves de casa. E nós é que somos os chulos!
Aqueles que olhas com desprezo sabem um pouco de tudo, são Padres, Juízes, Médicos, Socorristas, Bombeiros, Rambos, Psicólogos, Professores, Mecânicos, e se somares isto tudo e mais qualquer coisa tens um Polícia.
Quando é que vais perceber que só falas em liberdade porque nós existimos?
Quando é que vais entender que tipos como tu são a razão da minha existência enquanto profissional.
Se nós não existíssemos, ias à praia? Ao futebol? Jantar fora? Deixavas o teu filho ir à escola? Quer-me parecer que não.
Será que não entendes que ao insultares-me, estás a insultar aquilo que és, um homem livre?
Tudo isto funciona com combustível que concerteza encontrarás em abundância num qualquer Homem ou Mulher de farda; Abnegação, Generosidade, Espírito de Sacrifício e Altruísmo. Googla estas palavras e saberás a definição, bom era que aprendesses o conceito.
Já hasteei a minha Bandeira à chuva, já a arreei ao som do clarim, já representei a minha Mui Nobre Nação, já chorei a cantar “A Portuguesa” caso não saibas, é o título do nosso hino, conheço muitos Homens e Mulheres que coseram a nossa Bandeira no braço, que fazem de ti uma cabeça de alfinete num mundo de cabeçudos. A minha farda é rica em sangue suor e lágrimas, minhas e de tipos como tu, que quando precisam, ao ver-me, encontram refúgio e protecção.
Olha, o meu Pai nunca me deu um carro, nem me pagou a universidade, mas deu-me coisas sem preço, entre elas o valor de um Não, Educação, Humildade e Espírito de Luta.
EU SOU POLÍCIA, ORGULHOSAMENTE!
E TU, O QUE É QUE TU JÁ FIZESTE PELO TEU PAÍS?"
FERNANDO T.
quinta-feira, 29 de março de 2012
Ai que vontade tenho de nada...
Hoje dei por mim a recordar. Recordar momentos passados e a imaginar o meu futuro, lá longe, já mesmo no fim do caminho. Pensei em ti. Pensei no que me dizem de ti hoje. Não no que foste, nem no que dizias ser, mas no que és agora e naquilo que outros teimam em testemunhar de ti hoje.
A nossa mente é turbulenta, inquieta, tudo relativiza e tudo questiona. Faz balanços, faz prognósticos, imagina cenários. Ai que vontade tenho de nada, de silêncio, de calma, de olhar assim o mar calmo, límpido, transparente e ele se refletir em mim, apenas isso mesmo, mar.
Mais uma vez pensei em como somos enganados pelas palavras quando estamos cegos de amor, quanto negligenciamos os atos, as ações, os verdadeiros espelhos da alma.
Em tudo isto pensei hoje. E a chuva caiu forte, fortíssima e ainda não parou. Como se cada gota refletisse cada pensamento meu e cada lágrima que caiu da minha face. E o vento que ainda sopra lá fora embalou a minha alma levando para bem longe o meu pensamento.
Hoje misturei coisas, pessoas, foi um alvoroço, um temporal. Pensei em ti.
Pensei nas pessoas, nas ausências.
Por fim, baixei a cabeça, suspirei e sorri levemente. Devido à minha existência, à qual já darei pouco valor, alguém vai poder olhar um dia para trás e dizer: "Fui muito amado. Fui amado por aquilo que eu sou, acima de tudo e apesar de tudo, mesmo com as minhas imperfeições alguém um dia me achou perfeito. Alguém lutou por mim com todas as forças e me conquistou. Fui respeitado e honrado."
Ai que vontade tenho de nada, de silêncio, de calma, de olhar assim o mar calmo, límpido, transparente e ele se refletir em mim, apenas isso mesmo, mar. E possa enfim descansar...
Hoje dei por mim a recordar. Recordar momentos passados e a imaginar o meu futuro, lá longe, já mesmo no fim do caminho. Pensei em ti. Pensei no que me dizem de ti hoje. Não no que foste, nem no que dizias ser, mas no que és agora.
A nossa mente é turbulenta, inquieta, tudo relativiza e tudo questiona. Faz balanços, faz prognósticos, imagina cenários. Ai que vontde tenho de nada, de silêncio, de calma, de olhar assim o mar calmo, limpido, transparente e ele se refletir em mim, apenas isso mesmo, mar.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
A FESTA DA VIDA
Que venha o sol, o vinho, as flores | |
Marés, canções, todas as cores | |
Guerras esquecidas por amores | |
Que venham já trazendo abraços | |
Vistam sorrisos de palhaços | |
Esqueçam tristezas e cansaços | |
Que tragam todos os festejos | |
E ninguém se esqueça de beijos | |
Que tragam prendas de alegria | |
E a festa dure até ser dia | |
Que não se privem nas despesas | |
Afastem todas as tristezas | |
Pão, vinho e rosas sobre as mesas | |
Que tragam cobertores ou mantas | |
O vinho escorra pelas gargantas | |
E a festa dure até às tantas | |
Que venham todas de vontade | |
Sem se lembrarem de saudade | |
Venham os novos e os velhos | |
Mas que nenhum me dê conselhos | |
Que venham todas de vontade | |
Sem se lembrarem de saudade | |
Venham os novos e os velhos | |
Mas que nenhum me dê conselhos |
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Arrogancia ou autoconfiança?
Quando aterramos em Lisboa a escada surgiu para descermos do avião e o referido passageiro, disse para o outro: - “Estás ver? Aqui é assim, se fosse na nossa terra, ficávamos dentro do avião, à espera muito tempo, até que o homem da escada aparecesse. Mas aqui, eles são pobres, se ele falha, é despedido!”
Na sequência desta e de outras observações, perguntaram-me, se achava que os angolanos eram arrogantes ou de onde poderia vir esta imagem de arrogantes que nos acompanha. Penso sobre o tema e acho que existe: por um lado, uma consciência muito forte, desde os primórdios da história do nosso povo, e prevalece, na memória colectiva um passado de colonização, em que os portugueses vieram com um número significativo de gente pouco letrada, ignorante e pobre; por outro, longos séculos de cristianização, e angolanos com um nível educacional e de informação elevada, que se inscrevem como pares de outros no mundo e, por essas razões, não se consideram inferiores ou menos dignos.
Recentemente, surge uma classe de angolanos de riqueza recente, (como surgiu noutros países, em determinadas épocas), que ainda está a aprender a gerir, a usufruir e a viver os prazeres que o poder financeiro recente lhes confere. A estes, interessa exibir, pois assim sentem-se em paridade com outros, como se o seu valor estivesse assente, nos elementos materiais.
Confundindo aqui, auto-confiança, auto-estima, realização pessoal, com arrogância e exibicionismo dos bens materiais.
Por seu turno, o sofrimento, a dor, a perda, as dificuldades do quotidiano não ajudam, e afectam negativamente o bem-estar das pessoas em geral e torna-as fragilizadas. Qualquer ser humano fragilizado, sente a sua auto-estima e autoconfiança, assim como a confiança nos outros, ou no meio, a ruir. Logo, aquilo que é a essência da autoconfiança, ou seja, um ego bem nutrido e amado, estão abalados. Os afectos tornam-se negativos e um mecanismo de defesa que pretende compensar essa falha narcísica, é a exteriorização, o exibicionismo, como se houvesse uma necessidade de erguer o porte, tão desgastado pela vida, para mostrar ao mundo que existe uma certa forma de poder, de impor, e de existir.
A complexidade da nossa sociedade é de tal ordem que estes contornos dificultam que se faça bem, uma distinção entre ser auto-confiante e ser arrogante. A questão poderia ser: os angolanos são arrogantes, ou são auto-confiantes?A autoconfiança, é um domínio de conhecimento sobre si mesmo que permite ter segurança naquilo que se propõem fazer, ou realizar. Este estado é muito próximo da auto-estima elevada. Mas esta, por sua vez, é um dos pilares da autoconfiança e da auto-aceitação. Sendo este último, a forma de gostar e aceitar-se incondicionalmente. Estes são pares, por estarem associados ao conhecimento, às competências que cada um tem ou reconhece em si, sendo elas técnicas ou emocionais. Mas também, tem em consideração as limitações ou fragilidades aceites, de forma positiva ou sobredimensionada.
A autoconfiança e a arrogância, andam muitas vezes de mãos dadas, sobretudo naquelas mãos que não reflectiram sobre estes dois estágios, distintos, ou não os entenderam. Mais sério, naqueles que ignoram a importância e a elevação de um, face à menoridade do outro. Não são sequer duas faces da mesma moeda como o amor e o ódio, mas são opostos como o amor e a indiferença. Tal como o contrário de amor, não é o ódio, é a indiferença, o lado oposto de arrogância é a humildade.
A arrogância, é um dos maiores e melhores “sintomas” de falta de inteligência emocional, de falta de inteligência no geral, pois revela quase sempre uma incapacidade de empatia, de escutar, de sentir e viver emoções e, consequentemente, uma inabilidade para perceber o meio, os sentimentos dos outros e poder interagir de modo saudável e positivo.
O indivíduo arrogante está tão preocupado consigo mesmo e a tentar sobretudo, perceber apenas em si, o valor máximo, que não reconhece em si limitações, e é incapaz de viver sem ser destrutivo. O arrogante desvaloriza a contribuição dos outros porque frequentemente está implícito, esse sentimento, na apreciação exagerada das suas próprias realizações. Essas pessoas preocupam-se, constantemente, com fantasias de sucesso ilimitado, com poder, inteligência, beleza ou amor ideal.
A critica é feita quase que sistematicamente com um padrão invasivo de grandiosidade, assim como, prevalece, uma propensão enorme para a autoavaliação e auto-aceitação sobredimensionada ou sobreavaliada, em que as pessoas não aceitam as características dos outros como sendo suficientemente boas, mas só reconhecem em si, esse valor, fazendo de uma maneira geral, juízos muito críticos, muito cruéis.
É importante, enquadrar a nossa vida tendo como base três pilares, como diz, João Ermida : a verdade, a humildade e a solidariedade. Há aqui um ponto de equilíbrio, que tem de ser resultado de um processo de adaptação à vida. Nem ser excessivamente humilde e nem arrogante, é o ponto de equilibrio; acima de tudo tem de ser consciente de si e da imagem reflectida no espelho. Esta imagem é válida quer para o ser humano e as suas características, quer para as nações e os seus vários indicadores.
Não podemos ignorar que muitos indivíduos bem-sucedidos, exibem traços de personalidade que poderiam ser considerados arrogantes, ou narcisistas, porém, estes traços, somente constituem, um Transtorno da Personalidade Narcisista quando são inflexíveis, mal-adaptados e persistentes e causam prejuízo funcional significativo ou sofrimento subjectivo. Ou seja, da saúde, ou auto-confiança até à doença, ou arrogância, vai esta mesma distância.
A arrogância é uma forma de ser ignorante, de acreditar que se sabe tudo, e se domina os outros. Por essa razão, acaba por ser uma forma de privação de um dos maiores prazeres e benefícios da vida: aprender, apreender os outros e o mundo, saber fruir a vida e, consequentemente, ser muito mais saudável e feliz.
Na verdade, ao contrário da imagem revelada pelo passageiro do lado, sei que não podemos chegar "só porque somos ricos".
Luanda, 25 de Novembro de 2011
Noelma Viegas D’Abreu
Revista Estratégia
Na sequência desta e de outras observações, perguntaram-me, se achava que os angolanos eram arrogantes ou de onde poderia vir esta imagem de arrogantes que nos acompanha. Penso sobre o tema e acho que existe: por um lado, uma consciência muito forte, desde os primórdios da história do nosso povo, e prevalece, na memória colectiva um passado de colonização, em que os portugueses vieram com um número significativo de gente pouco letrada, ignorante e pobre; por outro, longos séculos de cristianização, e angolanos com um nível educacional e de informação elevada, que se inscrevem como pares de outros no mundo e, por essas razões, não se consideram inferiores ou menos dignos.
Recentemente, surge uma classe de angolanos de riqueza recente, (como surgiu noutros países, em determinadas épocas), que ainda está a aprender a gerir, a usufruir e a viver os prazeres que o poder financeiro recente lhes confere. A estes, interessa exibir, pois assim sentem-se em paridade com outros, como se o seu valor estivesse assente, nos elementos materiais.
Confundindo aqui, auto-confiança, auto-estima, realização pessoal, com arrogância e exibicionismo dos bens materiais.
Por seu turno, o sofrimento, a dor, a perda, as dificuldades do quotidiano não ajudam, e afectam negativamente o bem-estar das pessoas em geral e torna-as fragilizadas. Qualquer ser humano fragilizado, sente a sua auto-estima e autoconfiança, assim como a confiança nos outros, ou no meio, a ruir. Logo, aquilo que é a essência da autoconfiança, ou seja, um ego bem nutrido e amado, estão abalados. Os afectos tornam-se negativos e um mecanismo de defesa que pretende compensar essa falha narcísica, é a exteriorização, o exibicionismo, como se houvesse uma necessidade de erguer o porte, tão desgastado pela vida, para mostrar ao mundo que existe uma certa forma de poder, de impor, e de existir.
A complexidade da nossa sociedade é de tal ordem que estes contornos dificultam que se faça bem, uma distinção entre ser auto-confiante e ser arrogante. A questão poderia ser: os angolanos são arrogantes, ou são auto-confiantes?A autoconfiança, é um domínio de conhecimento sobre si mesmo que permite ter segurança naquilo que se propõem fazer, ou realizar. Este estado é muito próximo da auto-estima elevada. Mas esta, por sua vez, é um dos pilares da autoconfiança e da auto-aceitação. Sendo este último, a forma de gostar e aceitar-se incondicionalmente. Estes são pares, por estarem associados ao conhecimento, às competências que cada um tem ou reconhece em si, sendo elas técnicas ou emocionais. Mas também, tem em consideração as limitações ou fragilidades aceites, de forma positiva ou sobredimensionada.
A autoconfiança e a arrogância, andam muitas vezes de mãos dadas, sobretudo naquelas mãos que não reflectiram sobre estes dois estágios, distintos, ou não os entenderam. Mais sério, naqueles que ignoram a importância e a elevação de um, face à menoridade do outro. Não são sequer duas faces da mesma moeda como o amor e o ódio, mas são opostos como o amor e a indiferença. Tal como o contrário de amor, não é o ódio, é a indiferença, o lado oposto de arrogância é a humildade.
A arrogância, é um dos maiores e melhores “sintomas” de falta de inteligência emocional, de falta de inteligência no geral, pois revela quase sempre uma incapacidade de empatia, de escutar, de sentir e viver emoções e, consequentemente, uma inabilidade para perceber o meio, os sentimentos dos outros e poder interagir de modo saudável e positivo.
O indivíduo arrogante está tão preocupado consigo mesmo e a tentar sobretudo, perceber apenas em si, o valor máximo, que não reconhece em si limitações, e é incapaz de viver sem ser destrutivo. O arrogante desvaloriza a contribuição dos outros porque frequentemente está implícito, esse sentimento, na apreciação exagerada das suas próprias realizações. Essas pessoas preocupam-se, constantemente, com fantasias de sucesso ilimitado, com poder, inteligência, beleza ou amor ideal.
A critica é feita quase que sistematicamente com um padrão invasivo de grandiosidade, assim como, prevalece, uma propensão enorme para a autoavaliação e auto-aceitação sobredimensionada ou sobreavaliada, em que as pessoas não aceitam as características dos outros como sendo suficientemente boas, mas só reconhecem em si, esse valor, fazendo de uma maneira geral, juízos muito críticos, muito cruéis.
É importante, enquadrar a nossa vida tendo como base três pilares, como diz, João Ermida : a verdade, a humildade e a solidariedade. Há aqui um ponto de equilíbrio, que tem de ser resultado de um processo de adaptação à vida. Nem ser excessivamente humilde e nem arrogante, é o ponto de equilibrio; acima de tudo tem de ser consciente de si e da imagem reflectida no espelho. Esta imagem é válida quer para o ser humano e as suas características, quer para as nações e os seus vários indicadores.
Não podemos ignorar que muitos indivíduos bem-sucedidos, exibem traços de personalidade que poderiam ser considerados arrogantes, ou narcisistas, porém, estes traços, somente constituem, um Transtorno da Personalidade Narcisista quando são inflexíveis, mal-adaptados e persistentes e causam prejuízo funcional significativo ou sofrimento subjectivo. Ou seja, da saúde, ou auto-confiança até à doença, ou arrogância, vai esta mesma distância.
A arrogância é uma forma de ser ignorante, de acreditar que se sabe tudo, e se domina os outros. Por essa razão, acaba por ser uma forma de privação de um dos maiores prazeres e benefícios da vida: aprender, apreender os outros e o mundo, saber fruir a vida e, consequentemente, ser muito mais saudável e feliz.
Na verdade, ao contrário da imagem revelada pelo passageiro do lado, sei que não podemos chegar "só porque somos ricos".
Luanda, 25 de Novembro de 2011
Noelma Viegas D’Abreu
Revista Estratégia
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Insanidade
Sinto-me insana. Que loucura é esta que me coloca nesta posição de nada querer, de nada me satisfazer, de nada me acalmar, de nada me puxar para a vida? Acordar de repente e todas as manhãs ter de enfrentar o novo dia de forma compulsiva, obrigatória e saber que será mais um dia igual aos outros, tortuoso, amargo, dificil de ultrapassar. Sentir-me assim hora após hora, segundo após segundo e sentir cada momento intensamente...queria adormecer...e ficar assim privada de todos os sentidos, não sentir esta dor imensa. Por momentos agarro-me a tudo para sair desta tortura e penso em tudo o que me pode retirar desta morte em vida, recordo, revivo, chego a tocar a raiva, sim tocar a raiva seria uma saida, mas logo a seguir não consigo aí permanecer e volto a cair vertiginosamente no vazio, na solidão. Converso com quem se digna a ouvir-me, tento encontrar as imagens que me podem retirar daqui, imagens que se desfazem diante de mim e não permanecem. O alimento não me satisfaz, as responsabilidades tornam-se prisão, o dia queima-me a pele, a noite gela-me o corpo, o pensamento voa descontroladamente. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii alguém me dê a mão e não me deixe cair assim tanto, tão fundo, porque eu não tenho forças sozinha. Quem me dera despojar-me de mim, disto que eu sou, deste corpo cansado, desta alma sempre amargurada, destes olhos enrugados, desta boca com sede e sentir uma vez, apenas uma vez, que sou alguém para outro alguém e não apenas um acessório, um objeto, um veiculo, um adorno, um lixo. Que sou desejada, amada, sem fingimentos, apenas por aquilo que sou e por aquilo que dou. Que bom seria adormecer...já nem é por ti que estou assim, mas por aquilo que me tornei por teres passado por mim...por terem passado por mim... e consumido todo o meu ser. Sinto-me vazia, sem chão, sem sonhos, sem luz...completa insaninade.
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